quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Reocupação

Nos dias 23 e 24 de agosto de 2008, aproximadamente 20 estudantes ocuparam a reitoria da UnB. Mas, dessa vez, não foram reivindicar nada. Esses bravos estudantes, que “sacrificaram” seu fim de semana na reitoria, dormindo em barracas ou colchonetes participavam de um evento promovido pelo Fórum Permanente de Mobilização, grupo de alunos que estiveram na ocupação de Abril e continuaram a se reunir após o seu término para não deixar o movimento estudantil esmorecer, conservando a força adquirida durante a Ocupa. O evento teve formato de seminário, com a proposta de avaliar o momento pelo qual a UnB passou no último semestre, refletir e repensar a concepção de Universidade e preparar os alunos para uma futura reformado estatuto da UnB. Para tanto, organizaram uma estrutura puxada, iniciando as discussões no sábado às 8 horas da manhã e durando o dia todo, com pausa para almoço e janta, e continuando no domingo pela manhã e tarde.
O evento foi divulgado pela internet nas salas de aula, listas de email, no orkut, no blog e site da Ocupação. Foram espalhados panfletos e cartazes por toda a universidade. O evento era gratuito, a alimentação foi providenciada na hora, com o dinheiro de entidades apoiadoras (o DCE foi uma delas). A comissão organizadora, da qual eu participava, trabalhou muito indo atrás de textos e material para realização do seminário. O nosso desejo era que houvesse uma ampla participação de alunos de todos os cursos, calouros, veteranos, principalmente aqueles que nunca ingressaram no movimento estudantil. A intenção era informar ao aluno como funciona a UnB, refletir sobre o que é Universidade, qual o seu papel na sociedade e o nosso papel como aluno, e pensar estratégias para construir juntos uma universidade melhor, para o futuro. Infelizmente, a participação foi ínfima, compareceram somente aqueles já inseridos no movimento estudantil, que em sua maioria já eram participantes do fórum.
Duas perguntas me deixam inquietantemente intrigada: Porque os estudantes evitam, ou não se esforçam o mínimo, para participar desses espaços de discussão mais séria que ocorrem na universidade, quando este não diz respeito especificamente a área do seu curso ou de seu interesse? E como despertar nesse estudante alheio a todo acontecimento político-social da universidade o interesse de participar? A resposta a primeira pergunta é mais fácil de localizar. Está na própria sociedade brasileira contemporânea, é uma característica da nossa juventude resultante de processos históricos e culturais. Está relacionado com o período da ditadura, que distanciou o povo da participação política. Está relacionado com as mídias de massa, que se fortaleceram na última década, vinculando uma cultura de culto à juventude sem mostrar valores de responsabilidade, consciência social, participação na sociedade. Uma cultura de diversão desregrada, quebra de limites, individualismo exacerbado, idolatria do Eu. E outros inumeráveis fatores, que merecem um estudo mais profundo.
Quanto à segunda pergunta, eu ainda não faço idéia da resposta. No entanto, nos momentos de reflexão na reitoria foi delineada uma nova linha de ação para o movimento estudantil que pode ser uma tacada certa. Uma esperança surge, e muito trabalho há pela frente... Logo postarei aqui os textos produzidos com o conhecimento compartilhado pelas pessoas presentes na reitoria, escritos por nós em conjunto. Aos alunos do Desenho Industrial, espero ter dado a minha contribuição para o despertar de sua consciência, que vocês passem a se ver como atuantes diretos nos acontecimentos acadêmicos, inclusive os políticos. Desejo fortemente que haja mais participação dos alunos do meu curso e uma busca maior pela informação. Não custa nada, galera, e vocês vão passar a sentir que fazem parte de algo maior que o seu mundinho.


Artigo escrito pela Thais .

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